A voz do Pastor
Maio / 2012
Conversa com Maria numa
tarde de maio
Mãe Imaculada, minha
Auxiliadora: Das montanhas de Minas, escuto Adélia Prado, e ela fala ao meu
coração: “Em maio, a tarde não arde. Em maio, a tarde não dura. Em maio, a
tarde fulgura”.
Chegamos
ao mês de maio, mês desde sempre dedicado a você, Maria, Mãe de Deus e nossa
Mãe. Neste mês, iremos celebrar o tão querido “Dia das Mães”. Neste mês,
prolongaremos as alegrias do tempo pascal. Alegrias que foram vividas por você,
Mãe, que acompanhou, passo a passo, os passos de seu Filho na tarde mais triste
de sua vida. E você foi com ele até o momento final.
Lembra-se
das palavras “Mãe, eis aí teu filho. Filho, eis aí tua Mãe”? É pensando
nelas que me pego pensando: Quem, Mãe, não precisa de mãe? Quem não precisa de
Você? Desde o primeiro momento da vida, é a mãe quem nos ampara, protege,
alimenta. Naquele momento, ali, aos pés da cruz, Você se tornou a Mãe do novo
mundo, recriado segundo o coração do seu Filho. Mesmo quando Ele estava agonizando,
mesmo assim, não quis nos deixar órfãos. Mesmo quando Ele já havia entregado
tudo – o corpo, o sangue, o espírito –
já não restava mais nada do que foi a vida humana do Filho de Deus que
também foi Seu, um soldado veio e abriu-lhe o lado. E do lado aberto jorrou
sangue e água. Desse lado traspassado, nasceu a comunidade dos que O seguem
porque O amam. Nasceu a Igreja. Antes, porém, que a Igreja nascesse, Ele
providenciou Mãe que cuidasse dela, desde o primeiro choro. Porque choro sempre
haverá, e será muito. Quanta sensibilidade naquele momento tão duro e cruel!
Quanto amor dedicado! “Amou-nos até o fim!”
Ali, aos
pés da cruz do Senhor, já estávamos todos nós: você, eu, todos. Todos nós
estávamos, pois foi por nós que Ele se entregou. Foi por você, por mim, por
todos que Ele derramou Seu sangue. É nisso que eu penso toda vez que problemas
e dificuldades se aproximam de minha vida. É sobre isso que eu rezo, nesses
momentos. Apenas lembro a Ele que eu já estava lá, naquele dia, aos pés da
cruz. E se foi assim, não é agora que Ele irá me abandonar. E eu asseguro a
você: Ele nunca me abandonou. Sabe por quê? Porque Ela nunca me
abandonou. Porque Ela estava lá, comigo, conosco, naquele dia, aos pés da cruz.
Mãe que é mãe jamais abandona!
Nós
precisamos de Mãe.
Essa é a
nossa fé em Maria-nossa Mãe. É claro que nós sabemos e acreditamos que Ela não
faz milagres. Quem faz milagres é Deus. Mas Ela pede, intercede, suplica, como
só as mães sabem fazer por seus filhos. Em Caná, quando o vinho acabou, quem
intercedeu? O mordomo encarregado da festa nem sabia que o vinho havia acabado.
O mordomo se espantou que o vinho novo fosse melhor e que ficasse guardado para
o final da festa, quando geralmente se servia o pior. Quem estava atenta a
tudo? Na história de Caná, a impressão que se tem é que ninguém sabia de nada.
Ninguém! A não ser a Mãe. Ela sabia. E não só sabia, mas providenciava. Há
momentos em nossas vidas que o de que mais precisamos é de que Ela seja o que
sempre foi, desde o início: a Intercessora fiel que conhece nossas
necessidades, antes e melhor que nós. E ainda mais, Ela acredita em nós e, se
assim posso dizer, briga por nós. Ela acredita em nós, mais do que nós mesmos
nos acreditamos.
Mantém-se
a pergunta: precisamos ou não precisamos de mãe?
Parabéns
a todas vocês, mães, pelo dia que lhes é dedicado, nesse mês de céu tão azul e
tão bonito. Parabéns a você, Maria, Mãe de Jesus! Seja para todas o modelo de
mãe que ama, que não recusa o filho, venha como ele vier, faça o que ele fizer.
E quando alguma delas pensar em abandonar o filho, antes de chegar a
conhecê-lo, sussurre em cada ouvido uma melodia que canta mais suave que a
brisa da aurora, e com uma voz que só se pode ouvir a partir do coração, diga a
essa mãe: Antes de pensar nele, pense em mim, e pense em Deus. Nós nunca
abandonamos você!
Mãe, com
sensibilidade, Teresinha de Lisieux escreveu o pensamento que agora lhe dou e
que me enche de encanto e ternura, quando penso em você: “O que Maria teve
mais do que nós é que ela não podia pecar, estava isenta do pecado original,
mas por outro lado teve menos chance do que nós, pois não teve uma Virgem Maria
para amar: isso é uma doçura a mais para nós e a menos para ela”.
Obrigado,
Mãe, por você ter-me aceitado como sou, jamais ter-me recusado, jamais ter-me abandonado.
De certa forma muito pequena, eu sei, eu também sou Jesus para você. Às vezes,
sou Jesus desfigurado, caído, arrebentado, quase irreconhecível. Mas sou Jesus,
só para você, porque só você conseguiria me amar, como amou a Ele.
Agora, a
tarde cai por detrás da serra, a luz se esvai no clarão do mar. São seis horas.
É a Sua hora, Mãe: a hora da Ave-Maria, toda cheia de graça, ainda mais linda
que a luz do entardecer.
+ Dom José Francisco Rezende
Dias
Arcebispo
Metropolitano de Niterói